Em "Concertato", graça estabelece conversa íntima com o erudito

Espetáculo conduzido por Sinfônica da Unicamp e Lume Teatro está em cartaz no Centro de Convivência






















A conversa com o ator Carlos Simioni não pode se estender por muito tempo. Afinal, seria um deslize comparado ao momento tão importante em questão. Não à toa, pois Dona Gilda, palhaça não-me-toques vivida pelo ator em "Cravo, Lírio e Rosa", está justamente na prova do vestido escolhido para o concerto do fim de semana. Segredo: será dourado. Compreensível dado à importância desta diva da trompa que se deleitará aos olhos da plateia ao executar Tchaikovsky. Brincadeiras à parte, tal história tem a ver com o espetáculo "Concertato", que propõe o encontro entre Orquestra Sinfônica da Unicamp e os clowns do Lume Teatro. As sessões serão abrigadas entre sexta (14) e domingo (16) no Teatro Luís Otávio Burnier do Centro de Convivência.

A concepção de "Concertato" partiu de Denise Garcia, diretora do Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (Ciddic), da Unicamp, e viúva de Luís Otávio Burnier, fundador do Lume. Apurou a memória para se recordar dos concertos cômicos que, na juventude, contemplava na Alemanha. "O formato é muito comum na Europa", recorda-se Denise, diretora artística do espetáculo. Ao conceber a dramaturgia da montagem dada à comicidade, destaca a diretora, a estrutura de um concerto foi preservada. Para começar, a tríade comumente vista: a abertura, a participação de um solista e o encerramento com todos os músicos em cena. "A alternância do movimento: rápido e lento em sinfonias também estão presentes nos quadros".
















 Antes de caírem nos ensaios, os clowns do Lume Teatro: Ricardo Puccetti (Teotônio) e Carlos Simioni (Carolino e Gilda) ensinaram os músicos a serem atores. Justificável: em "Concertato", a orquestra tem de agir como tal. Até porque, em alguns quadros, os próprios músicos da sinfônica se tornam coadjuvantes da situação. A maestrina Simone Menezes, que o diga. "Aprendi a interpretar. Numa das cenas, expulso o palhaço que quer virar músico e volto para chorar", conta. Noutra, um músico empresta o arco do instrumento ao clown, que se torna uma espada em combate, ou possesso recrimina a atitude do fanfarrão. Pano pra manga. "Mesmo interpretando, segurar o riso fica difícil".
















O concerto-espetáculo inicia com a abertura da ópera de "La Clemenza de Tito", de Mozart. Nesta peça, Teotônio pensa em ser músico. Clarinetista, por sinal. "Quando ele vê a orquestra se preparando para começar a tocar, infiltra-se entre os músicos. Rapidamente é descoberto", explica Simioni. Apesar do nariz torcido por parte dos músicos e da maestrina, o clown não desiste fácil. Se consegue ou não realizar o sonho, Simioni prefere não contar. Aliás, o procedimento de mistério passa por todos quadros comentados pelo ator. Tem razão, já que são configurados como as pilhérias de picadeiro. O final sempre arremata a piada. "Perderia a graça", destaca.
Em "Sinfonia nº 5: II movimento", de Tchaikovsky, a diva Gilda (de araque, por sinal) busca contagiar o espectador com a performance estupenda na trompa. Para tal, utiliza-se de métodos ilícitos. A apresentação de Gilda também se rende aos passos da dança. Perigo. "Num dos movimentos, ela cai na plateia. Aliás, toda a participação dela tem uma intimidade com o público", avalia Simioni. A obra escolhida, explica Simioni, vem a calhar com a situação, como todas em "Concertato". Trata-se do período romântico. "O espetáculo exacerba este romantismo, como também brinca com a seriedade da plateia com a diva ou com o regente".
















Ao apurar os olhos sobre a cena, o espectador consegue apreciar a dupla tradicional de palhaços do picadeiro: Branco e Augusto. Trocando por miúdos, quem manda e quem obedece. Na abertura de "O Empresário", a estrutura pulsa com força. Na situação, dois maestros se digladiam para reger um único concerto. A batalha, que se inicia psicológica, acampa-se no terreno da luta com espadas. Claro, de mentirinha. Enquanto um se utiliza da batuta, o outro toma o arco de um instrumentista. "Estabelece o mesmo jogo proposto quando estas duas figuras se encontram. Sempre aberto ao improviso". Ao final, com intuito de homenagear o Lume Teatro e o seu fundador, a Sinfônica executa uma canção folclórica judaica presente no espetáculo "Cravo, Lírio e Rosa". "Daí, fazemos a mesma dancinha final do espetáculo".
 














Projeto
"Concertato" integra o projeto interdisciplinar coordenado pelo Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural (Ciddic), da Unicamp. Em agosto de 2010, durante "Simetrias", a Sinfônica da Unicamp propôs um encontro entre erudito e tecnologia. "A partir do som da orquestra captado pelo microfone geravam, por meio de um software, imagens simétricas que eram projetadas", conta a maestrina. Da mesma forma, em "Intervenções: Música e Dança" (junho deste ano), os músicos da orquestra dividiram a cena com um quarteto de estudantes bailarinos do Instituto de Artes (IA), sob a coordenação da coreógrafa Angela Nolf. Em 28 de outubro, no Centro de Convivência, a edição 2011 do programa se encerra com a apresentação de "Simetrias".

Serviço
O quê:
"Concertato", com Sinfônica da Unicamp e Lume Teatro
Quando: Sexta (14) e sábado (15), às 20h, e domingo (16), às 17h
Onde: Teatro Luís Otávio Burnier do Centro de Convivência (Praça Imprensa Fluminense, s/n, Cambuí, Campinas)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: (19) 3232-4168